Nota pós-Notícia

Globalização...o sentido da palavra não está associado apenas a unicidade com que as notícias percorrem o mundo com o advento da informática. O complexo sistema disponibiliza, mas também controla o que deve ou não ser publicado. "pós-Notícia" é o discorrer dessa informação, o intercalar das inúmeras notícias que recebemos todos os dias e as desconsideramos ao final deste. Você já pensou que estas, por mais estranhas e opostas que pareçam, possam estar interligadas?

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terça-feira, abril 17, 2007

"ARTE EM CHOQUE" - Desconstrução

Em 1935 o filósofo Alemão Walter Benjamin (1892 – 1940) no ensaio A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica, levantou uma discussão acerca das novas técnicas de reprodução artística. Segundo Benjamin, o advento do cinema e da fotografia não apenas abrangiam todas as formas de arte conhecidas até então, como também se inseriam como novas manifestações artísticas. Tais manifestações, no entanto, colocavam em choque valores antigos de contemplação da unicidade existente nas obras de arte.

DISSOLUÇÃO DA AURA

A reprodução do que se entendia por arte, materializada pela fotografia e pelo cinema, não mais permitiu a distinção da arte autêntica e sua cópia. A reprodução também influenciou no acesso da massa às obras. O que antes era bem restrito tornou-se amplo e dissipado. O cinema e a fotografia quebraram a barreira do espaço-tempo. Assim, o caráter de unicidade da obra tradicional foi diretamente afetado, desconstruindo, desta forma, a noção de aura, existente na contemplação artística. Isso porque a apreciação de uma obra envolve o modo de sentir e perceber e tais sentidos se formulam pelo caráter único e estritamente localizado de uma obra. Com a quebra do espaço-tempo, uma vez que sua reprodução podia se dar em qualquer lugar, o que não acontecia com a original no museu, e quando quisesse, pois a reprodução era ilimitada, o cinema, em especial, adquire uma significação social inédita possibilitando que a massa entre em contato com a arte, elemento tradicional da herança cultural.

EXIBIÇÃO E PERSONAGENS

A nova arte, no entanto, exige uma nova leitura. A mediação do aparato técnico e a massa representada pela lente da câmera são responsáveis pela captura e restrição do que se entende útil ao contexto. Desta forma, mesmo o ator tem sua atividade diretamente afetada, uma vez que sua atuação não permite, como em outras manifestações, um envolvimento participativo e interativo a exemplo do teatro e sua imediação. À frente de uma equipe técnica especializada a performance do ator é muito mais em cima de sua própria personalidade; performance de si mesmo. Por este motivo o desempenho do ator de cinema e muito mais desprovido de aura tal qual personagens interpretados por ele.

MONTAGEM E EDIÇÃO

Walter Benjamim, cita ainda, que é na montagem que o processo criativo do cinema se mostra ainda mais criativo. Por intermédio da alteração da percepção e apreciação da estética a montagem cinematográfica faz emergir choques audiovisuais entre planos e cenas. Sendo assim, a concentração e contemplação exigida pelas obras de artes tradicionais, deformam-se no cinema, que utiliza a conjugação de imagens à indução de um raciocínio. Logo, a apreciação da arte no cinema é distraída, uma vez que a associação de idéias é interrompida tanto pela velocidade do filme quanto pela edição de cenas inseridas no contexto desejado. O cinema não se faz só com os olhos e sua recepção apenas visual. O cinema, esta inovadora arte, é tátil e engloba os sentidos como um todo.

Daniel Lopes