Nota pós-Notícia

Globalização...o sentido da palavra não está associado apenas a unicidade com que as notícias percorrem o mundo com o advento da informática. O complexo sistema disponibiliza, mas também controla o que deve ou não ser publicado. "pós-Notícia" é o discorrer dessa informação, o intercalar das inúmeras notícias que recebemos todos os dias e as desconsideramos ao final deste. Você já pensou que estas, por mais estranhas e opostas que pareçam, possam estar interligadas?

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segunda-feira, janeiro 29, 2007

"DONOS DO PEDAÇO" - Celofane

A noite carioca chegou a um ponto, no mínimo, curioso. Noite, mas poderia tranqüilamente citar qualquer período do dia de uma pessoa que esteja transitando pelas ruas da cidade maravilhosa. Engraçado seria, se trágico não fosse. Já foi a época que nossa única preocupação era pegar um caminho menos perigoso, mais iluminado ou, até mesmo, o mais rápido. Por outro lado, tais preocupações não necessariamente encontram-se extintas. Apenas um outro preocupante fator ganhou destaque. Hoje carioca tem medo é de “flanelinha”.

Engano pensar que houve redução nos índices de criminalidade. Ela apenas mudou de cara, nome e atende de forma quase lícita, pois a idéia já está tão incorporada que a atividade não sugere qualquer tipo de fiscalização. Ela simplesmente existe e ponto.

O raciocínio e, no mínimo, interessante: você se desloca ao local desejado, observa um ponto de parada de seu interesse e direciona seu veículo. O local não sugere qualquer sinal de propriedade particular. Desde que respeitadas as normas de trânsito, você como cidadão tem o direito de utilização daquele espaço. Eis que surge, então, alguém que indica o local exato onde você deve estacionar, como, exatamente, o carro você deve deixar e, principalmente, quanto, significativamente, você deve pagar. Tal taxa representa a realização da atividade de guarda de seu patrimônio em seu benefício. Olha que lindo! Pena que a denominação do termo “imposto” nunca tenha sido tão bem representada.

Tudo bem, o espaço é público, você faz parte do “público”, mas “lamento amigo, a área é minha, eu vi primeiro”. É isso mesmo. Ele é o “dono do pedaço”. Você não está pagando a proteção do seu carro contra bandidos, e sim contra o próprio que diz estar guardando seu patrimônio. Bom, neste caso ele também responde pela denominação “bandido”, mas “flanelinha” é seu codinome, uma clara referência as primeiras manifestações da atividade, quando os homens que a executavam carregavam consigo flanelas que utilizavam para sinalizar o trânsito e lustrar o veículo enquanto o “seu dono não vem”. A flanela, quase que totalmente, desapareceu junto com os homens de bem. Ainda, em poucos lugares, encontramos legítimos “flanelinhas”. Deve ser mais fácil encontrar um mico-leão dourado em compras de Natal no Saara.

Avisar não custa: jamais tente enganar um deles. Estão sempre lidando com pessoas que tentam se esquivar de seus serviços. Em outras palavras, são muito mais espertos que você. Os donos do pedaço movimentam um negócio de dar inveja a muitos micro-empresários e o não-pagamento de seus préstimos pode gerar arranhões métricos no seu veículo. Não invente! Se você não quer pagar, não pare! Vá procurar outro lugar. Porque aquele tem dono... e ele cobra o aluguel.

Daniel Lopes

sábado, janeiro 13, 2007

"HOJE EU ACORDEI" - Celofane

Hoje eu acordei ateu.

Faz pelo menos 10 horas que estou dormindo, acordo e ainda é noite. Ela é mais longa hoje. Triste. Toma-me um falso sentimento de culpa. Matei Deus e seus soldados. Sento-me à cama. Quero não acreditar, mas meus pensamentos lógicos estão misturados em cada uma das sensações que passo. Não me soltam. Não me deixam. Rendo-me contra minha vontade. Contra minha esperança. Deus não existe hoje pra mim. O que faço? Como posso viver assim? Cercam-me os que crêem. Culpam-me os que crêem. Não tenho a intenção. Sou vítima de meus cálculos matemáticos. São certos. Não restam dúvidas. O Big-Bang faz muito mais sentido que Adão e Eva ou a cobra e a maçã. Feliz os tolos que acreditam. Vivem felizes os dias de amanhã. Dias que não vêem amanhã. Amanhã que não existe pra mim... infelizmente. Sou pequeno. Sou nada. Não existia antes de nascer, não vou existir depois de morrer. É simples, trágico e muito, muito doloroso. Meus heróis não morreram de overdose. Morreram loucos. Como poucos. Por isso foram heróis idolatrados por pessoas que ainda existem e cegamente não acreditam no que eles diziam. Mas eu acredito, hoje, para o meu completo desespero. Sabiamente alguém escreveu, o que outrora se tornou parte do livro sagrado, que a maçã traria o conhecimento que detinha o Pai e por isso tal proibição. O amargo gosto desta fruta desfruto agora. Torno-me aos poucos tão grande quanto Deus a ponto de não enxerga-lo. De não compreende-lo. De não escuta-lo. Uma pena. Queria que hoje não existisse, como não vou mais existir um dia. Queria não ter estes heróis. Queria apenas idolatra-los como o rebanho dos que neles não acreditam. Queria ser cego, surdo e mudo pra reduzir a quase nada minhas vontades, apenas seguir o fluxo e viver pra sempre.

Hoje eu acordei

Virei-me na cama e avistei um Homem à margem dela. Não via Seu rosto. Sua expressão. Via em Seus lentos movimentos, o cuidado de quem me faz um bem. Não falo. Não responde. Nosso diálogo não sugere palavras, mas gestos. Ele não precisa delas. Estranho como o dia clareou rápido e junto com ele, minhas esperanças. Meus olhos estão alegres e molhados. Sinto cada parte de meu corpo por centímetro de vitalidade. São unidades de medidas conhecidas por homens do rebanho, e por mim, apenas hoje. Não perdi tempo antes de conhecer este Senhor, mas ganhei o tempo que daqui virá. Não me levanto. Não me sento. Estou mais que confortável. Estou vivo. Nasci hoje. Não calculo mais. Meu Pai não criou números. Criou homens. O Homem à beira da cama se afasta e logo entendo que precisa visitar outros homens que dormem. Existem poucos que não acordam, mas muitos estão sonolentos. Sono lento que leva 10 horas e não desperta o dia que com luz clareia o caminho. Hoje ganho novos heróis. Antigos, agora os idolatro não acreditando em seus brilhantes retalhos. São homens, criativos como só e vítimas de seus cálculos construídos por números não criados pelo Pai, como si próprio. O Homem se foi em corpo, mas o dia claro, fresco e pacífico me traz uma boa sensação de que ele volta quando eu precisar, no momento que eu precisar, sem palavras ou números, pra mostrar que Ele sempre existiu e eu, a partir de hoje ou apenas hoje, vou existir pra sempre...

e... vice-versa.

Daniel Lopes